alimentação saudável sem sofrimento

Será que todo alimento "plant-based" é saudável?

No meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) analisei produtos classificados como "plant-based" e avaliei a qualidade, considerando diversos critérios, inclusive a lista de ingredientes e a tabela nutricional. Adivinhem o que eu descobri?

Haydée Borges

1/8/20253 min read

Se vocês está lendo esse texto e me segue em alguma rede social, certamente já sabe a resposta e, como sou péssima em fazer mistério, digo logo: não. Ao contrário do que o nome sugere e o marketing da indústria alimentícia quer nos fazer acreditar, nem todo alimento "plant-based" é, de fato, feito de plantas. Muitos deles podem não ter ingredientes de origem animal, mas são feitos de ingredientes altamente modificados e nada integrais, como são as plantas e com deve ser uma dieta plant-based, além de altos em sódio, gorduras e cheios de ingredientes cosméticos (que dão cor, sabor e cheiro artificialmente a esses produtos). Tudo isso contribui para classificá-los como ultraprocessados - aquela categoria que o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que a gente evite.

Eu sei que, para quem não come animais, pode parecer irresistível ter produtos vegetarianos que simulam a textura e o sabor daqueles alimentos que fazem parte da nossa memória afetiva, mas foram excluídos da nossa vida por uma razões ética. Mas infelizmente, preciso ser a portadora desta notícia: esses produtos são tão ultraprocessados quanto um pacote de biscoito recheado. Não devem ser considerados boa fonte de nenhum nutriente, já que são compostos por ingredientes de qualidade duvidosa e cheios de aditivos alimentares.

Para a análise do perfil nutricional, foram considerados os Critérios do Modelo de Perfil Nutricional da OPAS para a identificação de produtos processados e ultraprocessados com teor excessivo de nutrientes críticos. Todos os produtos analisados ultrapassavam a quantidade recomendada de sódio, 88% a quantidade de gorduras totais e 54%, a de gorduras saturadas. Um pouco assustador, né? Principalmente para quem acredita que esses produtos são saudáveis e consomem com alguma regularidade.

Mas, e sobre o tipo de processamento desses alimentos? Podemos classificá-los como ultraprocessados? Para fazer essa avaliação, foram definidos critérios baseados na Classificação NOVA, usada no Guia Alimentar para a População Brasileira, de acordo com a tabela abaixo:

Entre esses critérios o 2 - Substância de uso exclusivamente industrial apareceu em todos os alimentos avaliados, assim como pelo menos um tipo de aditivo cosmético (critérios 3, 4, 5 e 6), e, como resultado, 98% dos produtos foram classificados como ultraprocessados.

Baseado nesse estudo, podemos dizer que todos os alimentos plant-based disponíveis no mercado brasileiro são ultraprocessados? Óbvio que não, porque a amostra foi pequena e os produtos estão em constante reformulação. Mas ele nos dá um alerta de que é preciso olhar além do rótulo e da embalagem bonitinha quando vamos comprar um produto. Além do mais, é importantíssimo avaliar o contexto e a frequência do consumo desses alimentos, já que o consumo em excesso e, principalmente, seu consumo em substituição a alimentos in natura e minimamente processados pode ter um impacto negativo na saúde, especialmente a longo prazo.

Referência: BORGES, HCF. Estratégias da Indústria de Alimentos: O Caso dos Produtos Plant-Based. [Trabalho de Conclusão de Curso - Curso de Graduação em Nutrição]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2021.

No trabalho de pesquisa que realizei entre de 2 de agosto e 18 de outubro de 2021, fiz um mapeamento de 56 produtos que imitam carnes ou produtos cárneos como almôndega, carne moída, peixe, linguiça, entre outros, de 10 marcas disponíveis em pontos de venda na cidade de São Paulo e online.

Analisei o posicionamento dessas marcas no Instagram (como comunicadora, não me contentei em me apegar a questões nutricionais: eu precisava olhar para a estratégia de comunicação usada para a divulgação desses produtos), as embalagens (olha meu passado como designer gritando aqui), a lista de ingredientes e a composição nutricional. 

Das 425 postagens na rede social das 10 marcas selecionadas para este trabalho, 46% focavam em sabor e textura (na maioria das vezes comparando a produtos semelhantes de origem animal) e 36% no tipo de ingredientes usados, mesmas alegações que se destacaram na análise das embalagens (77% com destaque para os ingredientes e 70% para sabor e textura).